Capitão Astúcia (2022) Direção: Filipe Gontijo Roteiro: Eduardo Gomes e Filipe Gontijo Elenco: Fernando Teixeira, Paulo Velings, Nívea Maria, André Amaro, Gleidi Firmino, André Deca, Andrade Júnior.
Por Maria do Carmo Alvarenga, em 26 de Novembro de 2024
Capitão Astúcia (2022) é um longa-metragem de aventura, do subgênero super-heróis, que vem despontando cada vez mais forte no cinema, nas últimas décadas. Estamos habituados aos clássicos de Hollywood, como os heróis Marvel ou os DC, inspirados em quadrinhos que ganharam as telonas e o imaginário de muitos de nós. Na produção brasiliense em questão, Capitão Astúcia de Filipe Gontijo narra a história de um quadrinista (Fernando Teixeira) aposentado que resolve se tornar super-herói para salvar o mundo do Akira- Laser, um misterioso tocador de arpa que aparecia na TV dos anos 90. Astúcia vê a chance de derrotar o vilão, em um show que o músico fará em Brasília. O Dom Quixote do cerrado arrasta o neto Santiago (Paulo Verlings) para suas aventuras. Mas, há um paradoxo entre eles: enquanto o avô está cheio de vida e empolgação, Santiago está frustrado pois o pai quer que ele volte a ser o sucesso de criança quando era o Kid Pianino, mas o rapaz não está confortável com a ideia e ao mesmo tempo se sente obrigado a obedecer ao pai. A alma do avô vibra como uma criança, ao passo que a do jovem parece velha e saturada da vida. "Você é a criança mais velha que eu já vi na vida", palavras do Capitão Astúcia. As aventuras do herói estreitam as relações entre avô e neto e transformam a vida dos dois.
Com uma narrativa envolvente, que não cai em pieguices em nenhum momento, o roteiro de Eduardo Gomes e Filipe Gontijo empolga, faz rir e emociona. Isso porque não se trata desses filmes comuns em que o super-herói tem superpoderes e a missão de salvar a humanidade ou os Estados Unidos do domínio do mal. O nosso herói aqui do "quadradinho", ao seu modo, lida com as relações com o próprio filho, com o neto e tem até uma musa - a sua Dulcinéia (presença brilhante de Nívea Maria). Ele lida divertidamente com a solidão e a possiblidade da morte, já que nosso personagem tem 80 anos. Com sua vestimenta e máscara de super-herói, ele filosofa: "Não tenho medo da morte, a morte é quem tem medo de mim".
A fotografia provoca orgulho em nós brasilienses, ao vermos a kombi "emprestada" rodar pelas tesourinhas, pelo Conic e tem até uma cena transcendental de uma explosão com um artefato tipo bombinha, na icônica Ermida Dom Bosco. A opção por recursos digitais, numa dosagem equilibrada, dá uma ambientação particular às performances de super-herói, inclusive com uma simulação do que seria entrar em uma outra dimensão, meio que numa ambientação metaverso ou realidade virtual.
Capitão Astúcia é uma produção já premiada em diversos festivais. Em novembro de 2024, no Festival Brasileiro de Filmes de Entretenimento - FEBRAFE, em Brasília, assisti ao filme e à sua condecoração como Melhor Filme, além dos troféus de Melhor Roteiro e de Melhor Ator para Fernando Teixeira. Ainda no início do FEBRAFE, eu que ainda não tinha assistido a nenhum dos excelentes filmes da mostra, entrevistei Gontijo, que me disse que, desde 2022, Capitão Astúcia já colecionava 46 prêmios em festivais nacionais e internacionais. Eu brinquei: "será que virá o 47º?" Filipe Gontijo respondeu com um modesto "quem sabe?" e acrescentou que o que curtia mesmo era ver as reações das pessoas ao assistirem ao seu filme. Após a premiação que confirmou o maior prêmio ao Capitão Astúcia, Filipe falou da satisfação em receber um prêmio em um festival de entretenimento, pois ele idealizou uma obra de aventura, com o objetivo de entreter, mais com um teor pessoal e que emociona a quem o assiste.
Concordo com você, Filipe Gontijo! Capitão Astúcia, o super-herói candango, nos proporciona momentos leves e, ao mesmo tempo, nos faz refletir, entre outras coisas, sobre como e porque esquecemos o nosso lado criança quando nos tornamos adultos, tudo isso regado à risos e muita diversão.
Profundidade de Campo 
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