Análise Crítica do Filme Emília Perez: Expectativa vs. Realidade

Por Maria do Carmo Alvarenga, em 09 de Fevereiro de 2025.

Emília Perez ( França, 2024)

Direção: Jacques Audiard

Roteiro: Jacques Audiard

Elenco: Karla Sofia Gascón, Édgar Ramírez, Zoe Saldana, Selena Gomez

O  interessante argumento em que um chefão do narcotráfico (Karla Sofía Gascon)  se une a uma advogada brilhante, mas frustrada, para realizar a transição de gênero e transformá-lo em outra pessoa, teria tudo para fazer do filme Emília Perez uma obra-prima. Mas, embora aclamado no festival de Cannes e indicado ao Oscar, com chances de ganhar, percebo um roteiro fraco, inconsistente, demonstrando uma pesquisa rasa e injusta com o México e com a América Latina.

                  O diretor francês Jacques Audiard opta pelo gênero musical, no entanto a escolha transforma a montagem em uma colcha de retalhos que pega o espectador de surpresa quando os cantores começam a cantar subitamente confundindo a narrativa. Uma personagem está conversando e, do nada, ela passa a cantar, o cenário muda para entrar apresentações musicais com dançarinos, tudo sem ter muito a ver com o contexto. A trilha sonora original da artista francesa Camille não cola muito, não empolga e ouvir a Karla Sofía Gascon cantando é sofrível.

                  O roteiro de Audiard demonstra que ouve pouca pesquisa sobre o México. As cenas foram gravadas no complexo de produção cinematográfica Bry-Sur-Marne Studios, onde foi reproduzida a ambientação mexicana. O resultado é artificialidade, além de uma sucessão de estereótipos com um elenco em sua maioria americano, a única atriz natural do México é a atriz Adriana Paz. A pronúncia espanhola da americana Selena Gomez é péssima, inclusive em alguns momentos, ela solta algumas palavras em inglês, mesmo. Somente a atuação de Zoé Saldaña parece salvar um pouco a trama.

                  O problema em questão não é um diretor de uma determinada nação fazer um filme sobre outro país. Mas, é preciso uma pesquisa para respaldar, conhecer a cultura e respeitá-la. Audiard perde a oportunidade de abordar de uma maneira aprofundada e crítica temas como criminalidade, representatividade, desigualdades sociais. Atualmente, a crise do narcotráfico no México é gravíssima e existem milhares de desaparecidos vítimas do crime. Mas, essa abordagem soa como uma banalização, quando Emília Perez usa a dor desses familiares como sua pretensa redenção. Também, soa como um escárnio a figuração de que essa redenção a transforme em uma “santa”.

                  Mesmo com todas essas questões, não dá para saber quais os critérios dos júris de festivais como o de Cannes ou o Globo de Ouro que aclamaram Emília Perez e muito menos as 13 indicações para o Oscar. Talvez o meu olhar seja pela arte em si e na minha opinião, se um filme vai tocar em temas sensíveis, que estes sejam tratados com a seriedade que merecem. Como a arte tem um percurso que em sempre cruza com os interesses da indústria, resta-nos esperar os resultados da premiação do Oscar. Com tantas indicações, mesmo sendo bastante criticado, Emília Perez tem chances de levar uma ou mais estatuetas.