Elena : Uma declaração de amor fraterna, intimista e sensível

Direção : Petra Costa. Roteiro:  Petra Costa Carolina Ziskind

Elenco: Elena Andrade, Li An, Petra Costa. Documentário- 2012

Por Maria do Carmo Alvarenga, em 30 de março de 2025

Sabe quando uma história toca fundo na alma e te deixa mergulhado numa maré de sentimentos que não sabe como processar ? O documentário Elena de Petra Costa teve esse efeito em mim. O filme é um tributo da autora à sua irmã Elena Andrade, uma jovem que sonhava em ser atriz de cinema e tirou a própria vida, aos 20 anos de idade.

Petra Costa escolhe uma linguagem que rompe com as formas mais tradicionais de documentários.  Com muita subjetividade, ela narra a história da irmã, de sua família e dela mesma numa entonação carregada de sentimentos, dor, saudade, amor, admiração, tudo ao mesmo tempo. A diretora constrói o roteiro como uma busca por Elena, mas talvez, buscasse a si mesma . Desde o início, somos atraídos pela voz off sentimental da autora, que nos envolve em toda a intensidade da narrativa. Ela começa contando um sonho, que ela procura por Elena e no fim, vê a si própria morta. É a deixa para falar sobre as origens das duas, sobre os pais, sobre infâncias e todas as circunstâncias normais de uma família, mas que, no fundo, são particularidades individuais do ponto de vista de cada um de nós.

As imagens são em sua maioria caseiras, pois Elena e a mãe Li An gostavam de filmar os momentos em família. Além, disso, a moça que foi estudar teatro em Nova York, fazia vídeos sobre suas vivências para enviar aos pais e à irmã.  Petra Costa infere um olhar subjetivo e poético às imagens. Algumas vezes, ela desfoca os takes da cidade, ou funde-os com a luz e as tomadas noturnas. Durante todo o filme, surgem edições de passagens de flores, algumas delas, provenientes de um tecido. Elas denotam delicadeza, como que a simbolizar a fragilidade da própria vida.

Os depoimentos de Li An ajudam Petra a seguir as pistas do que ocorreu momentos antes da morte de Elena, já que a própria autora tinha apenas sete anos na época. Li An algumas vezes encena, mostrando como foi que ela encontrou a filha, ou contando como foram os momentos no hospital. Esse recurso enriquece o filme e aproxima a ligação que as três mulheres – a mãe e as duas filhas – têm com a arte de atuar.

Embora seja de 2012, essa é uma das obras que perpassam os tempos, não só por abordar um assunto antigo, ao mesmo tempo atual e talvez ainda demore gerações para que não exista, que é o suicídio. Mas, torna-se eterna por tratar-se de um trabalho primoroso de Petra Costa, tamanha a sua capacidade de construir um filme tão belo e poético para falar de tema por demais íntimo e doloroso.


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